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Reportagem sobre o legado dos jogos olímpicos no Rio

O legado dos jogos: um desafio olímpico

Quase um anos após a construção, maior parte do Parque Olímpico está abandonado; projetos de educação e incentivo ao esporte permanecem no papel

Por Josimar Valerio | 29.05.2017

A cidade do Rio de Janeiro sediou, em agosto do ano passado, o maior evento esportivo do mundo: os jogos olímpicos e paralímpicos. No entanto, nove meses após o encerramento, o Parque Olímpico da Barra, considerado o maior legado das olimpíadas, se deteriora ao relento.

Uma audiência pública promovida pelo Ministério Público Federal na última segunda-feira (22) no Rio apresentou um relatório que aponta diversos erros de gestão. Representantes do poder público, atletas, professores, pesquisadores, entre outros, debateram sobre o futuro das instalações.

“Nosso objetivo nesta audiência é discutir o que fazer daqui para frente, do que será feito com o legado deixado, sem prejuízo das apurações das responsabilidades pela falta de planejamento”, destacou o procurador da república Leandro Mitidieri.

O Plano de Legado do Parque Olímpico, documento firmado entre a prefeitura do Rio e o comitê Rio 2016 antes da realização dos jogos, previa a adaptação das cinco arenas permanentes para funcionarem como escolas e centros esportivos abertos ao público geral. Já as moradias da Cidade Olímpica, complexo residencial formado por 3.604 apartamentos, seriam comercializadas no mercado imobiliário. A gestão desses projetos seria realizada com apoio da iniciativa privada.

Um exemplo de acordo semelhante que foi bem sucedido ocorreu em Londres, cidade que sediou a edição anterior do evento, em 2012. As arenas construídas para os jogos recebem visitantes todos os dias, e funcionam como espaços públicos de recreação e incentivo à prática esportiva. Além disso, metade dos apartamentos que receberam os atletas foram direcionados para projetos sociais.
No Brasil, as arenas permanecem vazias. Segundo informações de representantes do poder público carioca, a iniciativa privada perdeu o interesse pela gestão dos projetos após o encerramento dos jogos. Já os apartamentos da Cidade Olímpica não foram ocupados devido aos valores de venda muito acima do mercado para imóveis do mesmo porte. Alguns apartamentos foram anunciados com valor superior a três milhões de reais.

Em dezembro de 2016, o ex-prefeito do Rio, Eduardo Paes, entregou a gestão de parte das arenas para o Governo Federal. Em fevereiro deste ano, o Ministério do Esporte e o Comitê Olímpico do Brasil (COB) firmaram um acordo de utilização das arenas com foco no interesse público.

“O objetivo é fomentar o desenvolvimento do esporte de alto rendimento e do esporte educacional naquelas instalações, e de forma a integrá-la à Rede Nacional de Treinamento do Ministério do Esporte”, afirma uma nota oficial do COB.

Contudo, até agora, diversos veículos da imprensa nacional e internacional, além de órgãos de fiscalização, destacam o abandono e deterioração dos complexos esportivos do Parque Olímpico. Mesmo fechado, o custo de manutenção representa uma conta de 3,2 milhões de reais por mês aos cofres públicos.

Para além do desperdício de dinheiro, o legado das olimpíadas pode representar uma oportunidade de aproveitar o espírito olímpico no sentido de incentivar a prática esportiva e a educação.

É preciso uma ação efetiva do poder público, da sociedade civil e de setores do poder privado para evitar que as arenas olímpicas se tornem ruínas, como ocorreu em Atenas e Pequim. Mas existem bons exemplos, como a já citada cidade de Londres e Sidney. Que a experiência em outros países sirva de lição.
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